Nome do Projeto
Corpo que Muda, Voz que (re)Nasce
Enquadramento do Projeto
“Corpo que muda, voz que (re)nasce” é um projeto de educação sexual dirigido a crianças entre os 6 e os 10 anos, englobando os quatro anos do 1.º ciclo do ensino básico. Fundamenta-se nas orientações técnicas internacionais de educação em sexualidade da UNESCO (2018), e no Referencial de Educação para a Saúde (DGE/DGS, 2017), que defendem a escola como espaço privilegiado para garantir que todas as crianças, independentemente do contexto familiar, tenham acesso a uma educação sexual abrangente, positiva, contínua e adequada à idade.
Será implementado em contexto escolar, com sessões diferenciadas e estruturadas por faixa etária e baseadas na metodologia de aprendizagem em espiral, que defende a introdução gradual e progressiva de conteúdos, retomando-os com maior profundidade e complexidade ao longo do tempo. O envolvimento das famílias é essencial, prevendo-se a distribuição de folhetos informativos após cada sessão, bem como a criação de um canal aberto via email para esclarecimento de dúvidas.
A fase piloto ocorrerá no ano letivo 2025/2026, envolvendo 4 turmas, dos diferentes anos de escolaridade de uma escola básica do 1º ciclo, prevendo-se cerca de 80 participantes diretos. Nos anos seguintes, o plano é expandir o projeto de forma gradual a outras turmas, escolas e agrupamentos escolares e dar continuidade, aprofundando as temáticas, nas turmas que ingressaram a fase piloto.
Direção-Geral da Educação & Direção-Geral da Saúde. (2017). Referencial de Educação para a Saúde: Educação Pré-Escolar, Ensino Básico e Ensino Secundário. Ministério da Educação e Ministério da Saúde.
UNESCO. (2018). International technical guidance on sexuality education: An evidence-informed approach. United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization.

Necessidade(s) Identificada(s)
Estudos recentes revelam que as mudanças típicas da puberdade estão a ocorrer em idades cada vez mais precoces, particularmente entre raparigas, com a idade média da menarca a diminuir significativamente nas últimas décadas (Berentzen et al., 2024; Chandra-Mouli et al., 2023). Este fenómeno está associado a um aumento significativo no risco de problemas de saúde mental, como a ansiedade e a depressão. Adicionalmente, surgem ainda dificuldades na adaptação a nível emocional e social (Mendle, 2022).
Contudo, apesar destas evidências científicas robustas e das orientações curriculares vigentes (UNESCO, 2018; DGE/DGS, 2017), a implementação prática da educação sexual no 1.º ciclo permanece insuficiente. A escassez de materiais pedagógicos adequados ao universo simbólico e cognitivo da infância e o baixo nível de formação especializada dos professores reforçam esta lacuna.
Além disso, o estigma social e o tabu associados à menarca persistem, influenciando negativamente a autoestima e o bem-estar das raparigas em idade escolar, perpetuando o silêncio e a desinformação. Estudos realizados na Áustria (Maas et al., 2018), nos EUA (Mkumbo, 2020) e na Austrália (Weaver et al., 2021) confirmam que pais e professores reconhecem a importância da educação sexual precoce, mas frequentemente se sentem despreparados ou desconfortáveis para abordar estes temas.
Estes dados reforçam a urgência de iniciativas educativas que promovam o diálogo aberto, o acesso a informação apropriada à idade, o envolvimento das famílias e a disponibilização de ferramentas pedagógicas que favoreçam a literacia corporal e emocional desde os primeiros anos do ensino básico.
Berentzen, N. E., Voerman, E., van Mil, E. G. A. H., et al. (2024). Secular trends in age at menarche and menstrual cycle regularity. JAMA Network Open, 7(4), e2412345. https://jamanetwork.com/journals/jamanetworkopen/fullarticle/2819141
Chandra-Mouli, V., Plesons, M., & Patton, G. C. (2023). Menarche and the window of opportunity to improve health. The Lancet Child & Adolescent Health, 7(1), 6–8.
Direção-Geral da Educação & Direção-Geral da Saúde. (2017). Referencial de Educação para a Saúde: Educação Pré-Escolar, Ensino Básico e Ensino Secundário. Ministério da Educação e Ministério da Saúde.
Maas, S., Pilgrim, K., & Schneider, M. (2018). Parents’ and teachers’ attitudes, objections and expectations towards sexuality education in primary schools in Austria. Sex Education, 18(1), 42–58. https://doi.org/10.1080/14681811.2017.1343439
Mendle, J. (2022). Early puberty and mental health in girls: What we know and why it matters. National Geographic. https://www.nationalgeographic.com/science/article/early-puberty-mental-physical-health
Mkumbo, K. A. (2020). Perceptions of elementary school children’s parents regarding sexuality education. Academia.edu. https://www.academia.edu/111553353
UNESCO. (2018). International technical guidance on sexuality education: An evidence-informed approach. United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization.
Weaver, H., Byers, E. S., Sears, H. A., Cohen, J. N., & Randall, H. E. (2021). Canadian parents’ perceptions of the state of sex education in schools. The Canadian Journal of Human Sexuality, 30(1), 1–13. https://doi.org/10.3138/cjhs.2020-0037
Objetivo(s) e Meta(s)
O objetivo geral do projeto é promover a literacia corporal, emocional e sexual das crianças do 1.º ciclo do ensino básico, visando uma compreensão positiva e saudável das transformações corporais e emocionais associadas à puberdade.
Os objetivos específicos foram desenvolvidos com base nos referenciais nacionais (DGE/DGS, 2017) e internacionais (UNESCO, 2018). Este projeto pretende:
_ Aumentar o conhecimento das crianças do 1.º e 2.º ano sobre o corpo, as emoções, a privacidade e o consentimento, usando vocabulário adequado e estratégias lúdicas;
_ Reduzir o estigma associado à puberdade e à menstruação entre crianças do 3.º e 4.º ano, promovendo uma compreensão positiva e empática das transformações corporais;
Fortalecer a articulação entre escola e família, promovendo o diálogo sobre temas da educação sexual e emocional, com base na confiança, informação clara e continuidade;
_ Estimular a replicação do projeto noutros contextos escolares, através da produção de materiais reutilizáveis em diferentes contextos.
Quanto às metas operacionais para o ano letivo 2025/2026 (fase piloto), destaca-se:
_ Intervenção em 1 Escola Básica com 4 turmas (1 por ano de escolaridade), abrangendo aproximadamente 80 crianças.
_ Realização de 8 a 10 sessões presenciais com crianças, de 40 a 50 minutos, ajustadas à maturidade de cada grupo.
_ Distribuição de 8 a 10 folhetos informativos diferenciados (1 por sessão), destinados às famílias das crianças participantes no projeto.
_ Disponibilização de um canal de contacto (email) para esclarecimentos de dúvidas e comunicação com as famílias.
_ Avaliação sistemática da intervenção, com base em instrumentos desenvolvidos especificamente para cada faixa etária.
Direção-Geral da Educação & Direção-Geral da Saúde. (2017). Referencial de Educação para a Saúde: Educação Pré-Escolar, Ensino Básico e Ensino Secundário. Ministério da Educação e Ministério da Saúde.
UNESCO. (2018). International technical guidance on sexuality education: An evidence-informed approach. United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization.
Estratégias de Implementação
Como referido, o projeto será desenvolvido em linha com a abordagem em espiral preconizada nos referenciais de educação em saúde e sexualidade. Quando uma escola integra o projeto pela primeira vez, procede-se a um diagnóstico de situação, através da realização de uma sessão com os docentes da escola. Sempre que necessário, realizam-se sessões extra no 3º e 4º ano, de forma a trabalhar alguns temas previstos em anos anteriores.
As sessões serão organizadas por ano de escolaridade e, adaptando às necessidades identificadas específicas a cada contexto, prevê-se:
_ No 1.º e 2.º anos de escolaridade: Sessões de 40 minutos (2 sessões anuais por turma), focadas no reconhecimento do corpo, emoções, privacidade e consentimento.
_ No 3.º e 4.º anos de escolaridade: Sessões de 40 a 50 minutos (2 sessões anuais por turma), abordando a empatia, a autoestima e transformações da puberdade, nomeadamente a higiene corporal, as alterações do corpo, a menarca e a menstruação como sinal de saúde.
Todas as sessões serão conduzidas com recurso a materiais visuais, jogos, cartões ilustrados, modelos anatómicos e livros infantis. Após cada sessão, será enviado para casa um folheto informativo, com os principais pontos trabalhados e propostas de diálogo em família. Paralelamente, será disponibilizado um endereço de email para os cuidadores poderem colocar dúvidas ou comentários, fortalecendo a articulação entre o espaço escolar e o familiar.
Indicadores e Métodos de Avaliação
Para o 1.º e 2.º anos: No final das sessões, espera-se que pelo menos 80% das crianças:
_ Sejam capazes de nomear corretamente três ou mais partes do corpo, incluindo os genitais, avaliado através de uma atividade de desenho e nomeação.
_ Identifiquem três emoções básicas e as respetivas formas de expressão, mensurado através do exercício “Expressa a Emoção” com imagens de rostos e perguntas associadas.
Para o 3.º e 4.º anos: No final das sessões, espera-se que pelo menos 80% das crianças:
_ Utilizem um discurso maioritariamente positivo ou neutro ao referir-se às transformações corporais da puberdade, avaliado por observação direta através de grelha com indicadores específicos.
_ Descrevam a menstruação de forma positiva e salutar, mensurado por um exercício de associação livre (pré-sessão) e pela frase de devolução “Hoje aprendi que a menstruação…” (pós-sessão).
Metodologia de Avaliação
Na primeira sessão, serão implementadas atividades diagnósticas para conhecer melhor cada grupo. No final da última sessão, realizar-se-ão atividades de avaliação adaptadas, com o objetivo de aferir a satisfação das crianças e a aquisição de conhecimentos ou modulação de comportamentos. A avaliação proposta visa não só medir o cumprimento dos objetivos definidos, como também recolher dados qualitativos que orientem a continuidade, replicação e melhoria futura e contínua do projeto.
Descrição dos Custos Previstos para a Implementação do Projeto
O montante do prémio será integralmente investido na aquisição e produção de materiais pedagógicos duradouros, apropriados à idade e cientificamente corretos, que servirão de base para a realização das sessões e o envolvimento das famílias.
_ Kits menstruais (Pensos descartáveis, reutilizáveis, cuecas menstruais, copo menstrual, tampões, cuecas de algodão): 100€
_ Kits educativos (Corpo com vulva e pénis, materiais de simulação e apoio às sessões): 110€
_ Outros materiais pedagógicos (Cartões ilustrados, jogos educativos e livros infantis sobre corpo, emoções, puberdade e menstruação): 110€
_ Impressão e papelaria (Impressão dos folhetos informativos enviados às famílias, formulários e materiais para as sessões): 90€
_ Material auxiliar para dinamização e registo das sessões (Pasta, dossier, canetas, folhas, cronómetros, marcadores, cartolinas, etc.): 50€
_ Mala para transporte e armazenamento de materiais (Mala resistente com rodinhas e divisórias para transporte e preservação dos recursos pedagógicos utilizados no projeto): 40€
Total estimado: 500 €
Este investimento permitirá garantir sessões interativas, envolventes e coerentes com os objetivos do projeto, assegurando também a continuidade e replicabilidade da proposta em contextos semelhantes.
O valor do prémio (500€) cobre os custos previstos?
Sim.
De que forma o projeto pretende contribuir para um NASCER POSITIVO em Portugal?
O projeto “Corpo que Muda, Voz que (re)Nasce” contribui para a promoção da saúde da mulher e da saúde materno-infantil em Portugal através de uma intervenção educativa precoce, baseada em evidência científica e alinhada com os referenciais nacionais e internacionais de saúde e educação.
Ao capacitar crianças dos 6 aos 10 anos com conhecimentos apropriados sobre o corpo, emoções, puberdade e menstruação, promove-se o desenvolvimento de uma relação positiva com o corpo e a sexualidade desde a infância, fator fundamental para a saúde mental e física na adolescência e na vida adulta (UNESCO, 2018; DGE/DGS, 2017).
Além disso, ao normalizar e desmistificar a menarca e a menstruação no contexto escolar, o projeto contribui diretamente para reduzir o estigma associado ao corpo feminino, favorecendo a autoestima e o autocuidado das raparigas desde cedo — um pilar essencial para a saúde da mulher.
Simultaneamente, ao envolver as famílias através da partilha de materiais acessíveis e da criação de canais de comunicação, o projeto promove diálogo intergeracional, literacia familiar e apoio à parentalidade, contribuindo para contextos educativos mais coesos e informados — o que reforça os determinantes sociais da saúde materno-infantil.
Finalmente, ao atuar de forma preventiva e universal, o projeto responde às recomendações da Organização Mundial da Saúde no que respeita à promoção da saúde sexual e reprodutiva desde os primeiros anos de vida, apostando numa lógica de capacitação, empoderamento e equidade.
Direção-Geral da Educação & Direção-Geral da Saúde. (2017). Referencial de Educação para a Saúde: Educação Pré-Escolar, Ensino Básico e Ensino Secundário. Ministério da Educação e Ministério da Saúde.
UNESCO. (2018). International technical guidance on sexuality education: An evidence-informed approach. United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization.